
Incomodada ficava a sua avó
Hoje relegada ao banheiro, a menstruação já ocupou um lugar de destaque na vida das comunidades matriarcais. Agora, as mulheres estão redescobrindo o poder inerente a esse ciclo cósmico-feminino. Adotar absorventes reutilizáveis, em vez dos poluidores descartáveis, é um dos passos nesse processo.
Alessandra Nahra
Uma pergunta para as mulheres: como você encara a sua menstruação? Como algo que incomoda, que vem de surpresa e a pega desprevenida, manchando calcinhas e causando cólicas? Como um inconveniente que você, se pudesse, não teria? Ou como apenas mais um dos fatos da vida, sobre os quais não temos nenhuma influência e dos quais queremos nos livrar o mais rápido possível?
Se alguma dessas descrições se encaixa na sua visão sobre a menstruação, você provavelmente prefere tampões e mal olha para baixo quando está trocando o absorvente. Quanto menos você ver, ou tiver que lidar com o seu sangue menstrual, melhor. A idéia de um absorvente reutilizável, que você lava em vez de jogar fora, é totalmente alienígena.
Afinal, "incomodada ficava a sua avó" - como dizia o anúncio. As mulheres modernas têm uma infinidade de opções de absorventes e tampões descartáveis. Você compra, usa e joga fora, e isso certamente é um progresso incrível. Fora que mulheres modernas não têm tempo para lavar absorventes. Para que, depois de conquistado o direito ao absorvente descartável, voltar ao tempo da sua avó, que tinha que lavar as embaraçosas toalhinhas higiênicas feitas de flanela?
O raciocínio acompanha os tempos atuais - nos quais, pela praticidade e economia de tempo, se sacrificam recursos naturais e a real qualidade de vida: levar uma vida consciente, em harmonia com o planeta. Os produtos descartáveis são vistos como um progresso e sinônimo de modernidade, porque evitam que se "gaste" nosso precioso e escasso tempo. Muitas mulheres, no entanto, estão preferindo voltar ao tempo da avó, abandonando o destrutivo progresso moderno por uma vida sustentável. E isso tudo pode começar bem perto de nós, no nosso lugar mais íntimo...
Poluição, recursos naturais e autonomia
Estamos pagando um preço muito alto pela praticidade moderna. A produção de descartáveis abusa de recursos naturais que mais cedo ou mais tarde se esgotarão. Absorventes são feitos de papel - leia-se árvores - ou algodão. As árvores, ou o algodão, passam por inúmeros processos de refinamento e branqueamento e acabam grudado na sua calcinha - de onde vão direto para o lixo. Imagine quantas mulheres em idade fértil vivem no planeta. Agora pense em quantos absorventes cada uma dessas mulheres usará durante sua vida fértil. Segundo Diana Hirsch, fabricante dos absorventes reutilizáveis aBiosorventes, "cada mulher usa em torno de 10 mil absorventes descartáveis durante sua vida fértil". Apenas nos Estados Unidos são jogados fora 12 bilhões de absorventes e 7 bilhões de tampões por ano.
Agora imagine para onde vai esse lixo, que não é biodegradável... Imaginou? Não, não existe um limbo dos absorventes. Eles não se desmaterializam assim que desaparecem da sua frente no lixinho do banheiro... Aliás, eles permanecem entre nós por muito tempo, deixando resíduos difíceis de processar, que aumentarão os lixões e a poluição. Certas partes do nosso "modess", por exemplo, podem levar até 100 anos pra se decompor.
Isso sem falar nos componentes químicos, como os agentes que fazem o papel ficar branquinho, e que acabam escorrendo para a terra e contaminando o solo. Por exemplo, a dioxina: subproduto do processo de alvejamento com cloro, é provavelmente a substância que deveria estar mais longe das delicadas partes baixas femininas - já que foi utilizada, numa concentração mais potente, até na guerra do Vietnam. Era conhecida então pelo nome de Agente Laranja.
Outro bom motivo para adotar os absorventes reutilizáveis é a economia. Reutilizáveis podem durar até oito anos, e isso representa um bocado de reais economizados - dinheiro que iria direto para o lixo na forma de absorventes descartáveis. E então chegamos na questão da autonomia. Todos os meses, as mulheres entregam o controle de um processo poderoso e íntimo nas mãos de corporações que não têm a saúde feminina como um de seus objetivos principais. Hoje em dia, se capitaliza tudo - até a menstruação. A publicidade nos diz que é moderno e prático utilizar absorventes e tampões, e nós acreditamos. Se passamos a controlar, nós mesmas, o que fazemos do nosso ciclo mensal, abre-se uma porta para que ocorra uma mudança profunda na maneira pela qual encaramos a "incomodação".
O resgate do feminino e a conexão com o planeta
Ao invés de incômodo, a menstruação pode significar uma chance de interiorização e cultivo da feminilidade. O sangue menstrual, detestado por inúmeras mulheres e considerado sujo em muitas sociedades, pode passar a ser visto de maneira diferente. E então, talvez a idéia de lavar nossos absorventes e reutilizá-los na próxima lua não parecerá assim tão maluca. Afinal, estamos colaborando para um planeta melhor, ao mesmo tempo em que se resgatamos nosso poder feminino.
O uso de absorventes não descartáveis representa um contato mais íntimo com você mesma. "Ao invés de jogar no lixo um sinal de fertilidade, você passa a se relacionar com este sinal, percebendo que a menstruação pode ser uma coisa positiva. É sinal de que você ovulou, e que não precisa ficar preocupada se seus hormônios estão ok ou não. É sinal de que você fechou um ciclo, assim como a lua, e que agora irá começar outro. É um sinal de esperança do seu corpo, pois é uma limpeza que ele está fazendo para no mês que vem se preparar novamente para gerar uma nova vida", lembra Diana Hirsch. "O ciclo menstrual é um grande presente em termos de flexibilidade, regeneração e criatividade. É um instrumento poderoso para se viver autenticamente, com responsabilidade e consciência", completa Nadia MacLeod, responsável pelo site australiano Menstruation. "Lavar os absorventes e reciclar o sangue no jardim, me mantendo conectada com a Terra, me ajuda a ter consciência dos ciclos da vida".
Morre a Grande Deusa e nasce o patriarcado
É preciso mesmo parar de olhar com repulsa, vergonha e medo para esse ciclo que acontece com todas as mulheres. Esse sentimento de sujeira, na opinião de Diana Hirsch, é resquício da sociedade patriarcal em que vivemos. Mas a humanidade nem sempre viveu no patriarcado. Há muito tempo, existiam sociedades de organização matriarcal, nas quais as mulheres eram respeitadas e veneradas e Deus não era Deus - e sim Deusa. Segundo Nadia MacLeod, na medida em que o patriarcado começou a se expandir, as culturas baseadas no culto à Grande Deusa ou à Mãe-Terra foram dizimadas ou se esconderam. "Com isso, se perdeu a reverência, conhecimento e poder inerentes ao ciclo menstrual. Lara Owen, no livro Seu Sangue é Ouro - resgatando o poder da menstruação, completa: "Nos últimos milhares de anos, todas as principais religiões do mundo tornaram-se patriarcais, e todas elas valorizam o intelecto e o espírito acima do corpo e dos instintos".
As sociedades que cultuavam a Grande Deusa viam a menstruação como um processo mágico, quando a mulher podia se conectar com os ciclos do planeta e da vida. "Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando", diz Diana. "O sangramento periódico das mulheres era um acontecimento cósmico, como os ciclos da lua e a subida e descida das marés", afirma Elinor Gadon no livro The Once and Future Goddess. Nadia MacLeod completa: "A menstruação, que já foi considerada uma ferramenta de alto poder de cura para as mulheres e suas comunidades, agora está confinada ao banheiro".
Onde encontrar absorventes reutilizáveis no Brasil?
aBiosorventes: bonitinhos e ecologicamente corretos
Bom, sempre dá pra fazer você mesma - ou mandar fazer na costureira ou na casa da avó, que tem máquina de costura. Mas agora já dá para comprar pronto aqui também, o que antes era um privilégio de americanos e europeus. Bonitinhos e ecologicamente corretos, os aBiosorventes são os primeiros absorventes reutilizáveis produzidos em escala comercial no Brasil.
Quem responde pela obra é Diana Hirsch, uma geógrafa carioca de 26 anos que está se preparando para cursar mestrado em Saneamento Ambiental. Tudo a ver com a função de fabricante e divulgadora de absorventes reutilizáveis: "Meu interesse é juntar a saúde da mulher com a questão dos resíduos sólidos, atrávés do aBiosorvente".
O projeto iniciou depois que Diana assistiu a um vídeo, produzido pelo curso de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chamado Conexão: Dioxina. "Esse vídeo explicava o que era a dioxina, e mostrava que na Alemanha as pessoas tinham a opção de comprar produtos que não fossem branqueados. As meninas da turma pensaram então em fazer um absorvente que não precisasse conter dioxina".
Diana então foi para a Internet, pesquisar. Achou dezenas de opções de absorventes sem dioxina e reutilizáveis - todos caros de importar. Sabendo costurar, ela resolveu então fabricar seus próprios absorventes. "Algumas amigas quiseram, e as amigas das amigas também, e aí pensei que seria uma boa trazer essa discussão para o Brasil".
Os aBiosorventes custam R$ 4,00 - ou 3 unidades por R$ 10,00. Para comprar, visite o site.
Diana contou para Planeta na Web como é conviver intimamente com os aBiosorventes:
Planeta na Web - Como é a aceitação de seu absorvente reutilizável?
Diana Hirsch - Bastante diversificada. Tem pessoas que eu juro que vão entender de cara, e não entendem, e tem outras que eu explico só porque elas perguntam, pois acho que nunca entenderiam, e elas acham a idéia fantástica! Isso vem sendo muito bom para eu parar de julgar as pessoas só pelas aparências... Venho descobrindo que a aceitação dos aBios passa por uma discussão muito maior: desde uma auto-aceitação, não ter nojo de lavar o próprio sangue, até um envolvimento maior com o Planeta, de cada um ser consciente da sua parcela de responsabilidade e de possibilidade. Olhando com um olhar mais macro.
PnW - Como fazer para lavar? Não é anti-higiênico?
Diana - É tão simples como lavar uma calcinha, a única diferença é que você precisará deixar de molho antes. Eu costumo deixar de molho um ou dois dias, e depois coloco na máquina de lavar, mas tem gente que depois do molho lava no banho. Com relação à higiene: um absorvente reutilizável não é mais anti-higiênico do que uma calcinha. Se você se sente segura para usar uma calcinha reutilizável, não tem porque não se sentir segura para usar o absorvente. A única pergunta é: você lava bem a sua calcinha?
PnW - Menstruação ainda é um tabu, e não deveria, já que toda a mulher menstrua. Por que você acha que ainda é considerado impuro ou sujo?
Diana - Acredito que ainda é resquício da sociedade patriarcal que a gente vive. O homem não menstrua, e, em geral, não se sente muito confortável com essa situação. Colocar a menstruação com esse status talvez tenha sido necessário para se estabelecer a sociedade nos moldes como se encontra hoje. Uma mulher que vê a sua menstruação e sua condição feminina como algo de bom, certamente é uma pessoa mais fortalecida e segura da sua condição. Isso dificultaria muito o trabalho dos homens. Deve ter sido necessário esse domínio patriarcal por algum tempo, apesar de que eu não sei porquê. Mas acho que já podemos nos fortalecer novamente. Não para 'lutar' com eles, mas para podermos ser livres.
PnW - Qual o impacto que representa o cultivo de uma relação mais saudável com a nossa própria menstruação?
Diana - A nossa sociedade rejeita a menstruação, mas não foi sempre assim. Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando. Até porque elas menstruavam juntas, o que era muito comum. Aliás, apesar do nosso distanciamento, ainda é possível perceber isso: muitas mulheres, quando moram juntas, ou são muito amigas, com muita afinidade, tendem a menstruar na mesma semana! Isso é muito interessante ser notado: por mais que evoluamos tecnologicamente, e cada vez mais nos afastemos da nossa origem animal, acontece algo dentro de nós, mulheres, todo mês, que tem uma estreita relação com a Lua e com outras mulheres próximas a nós. Isso pode nos trazer de volta a nossa condição humana, enquanto seres que também fazem parte da natureza.
Fonte: http://www.terra.com.br/planetanaweb/reconectando/ambiente/menstruacao.htm
Hoje relegada ao banheiro, a menstruação já ocupou um lugar de destaque na vida das comunidades matriarcais. Agora, as mulheres estão redescobrindo o poder inerente a esse ciclo cósmico-feminino. Adotar absorventes reutilizáveis, em vez dos poluidores descartáveis, é um dos passos nesse processo.
Alessandra Nahra
Uma pergunta para as mulheres: como você encara a sua menstruação? Como algo que incomoda, que vem de surpresa e a pega desprevenida, manchando calcinhas e causando cólicas? Como um inconveniente que você, se pudesse, não teria? Ou como apenas mais um dos fatos da vida, sobre os quais não temos nenhuma influência e dos quais queremos nos livrar o mais rápido possível?
Se alguma dessas descrições se encaixa na sua visão sobre a menstruação, você provavelmente prefere tampões e mal olha para baixo quando está trocando o absorvente. Quanto menos você ver, ou tiver que lidar com o seu sangue menstrual, melhor. A idéia de um absorvente reutilizável, que você lava em vez de jogar fora, é totalmente alienígena.
Afinal, "incomodada ficava a sua avó" - como dizia o anúncio. As mulheres modernas têm uma infinidade de opções de absorventes e tampões descartáveis. Você compra, usa e joga fora, e isso certamente é um progresso incrível. Fora que mulheres modernas não têm tempo para lavar absorventes. Para que, depois de conquistado o direito ao absorvente descartável, voltar ao tempo da sua avó, que tinha que lavar as embaraçosas toalhinhas higiênicas feitas de flanela?
O raciocínio acompanha os tempos atuais - nos quais, pela praticidade e economia de tempo, se sacrificam recursos naturais e a real qualidade de vida: levar uma vida consciente, em harmonia com o planeta. Os produtos descartáveis são vistos como um progresso e sinônimo de modernidade, porque evitam que se "gaste" nosso precioso e escasso tempo. Muitas mulheres, no entanto, estão preferindo voltar ao tempo da avó, abandonando o destrutivo progresso moderno por uma vida sustentável. E isso tudo pode começar bem perto de nós, no nosso lugar mais íntimo...
Poluição, recursos naturais e autonomia
Estamos pagando um preço muito alto pela praticidade moderna. A produção de descartáveis abusa de recursos naturais que mais cedo ou mais tarde se esgotarão. Absorventes são feitos de papel - leia-se árvores - ou algodão. As árvores, ou o algodão, passam por inúmeros processos de refinamento e branqueamento e acabam grudado na sua calcinha - de onde vão direto para o lixo. Imagine quantas mulheres em idade fértil vivem no planeta. Agora pense em quantos absorventes cada uma dessas mulheres usará durante sua vida fértil. Segundo Diana Hirsch, fabricante dos absorventes reutilizáveis aBiosorventes, "cada mulher usa em torno de 10 mil absorventes descartáveis durante sua vida fértil". Apenas nos Estados Unidos são jogados fora 12 bilhões de absorventes e 7 bilhões de tampões por ano.
Agora imagine para onde vai esse lixo, que não é biodegradável... Imaginou? Não, não existe um limbo dos absorventes. Eles não se desmaterializam assim que desaparecem da sua frente no lixinho do banheiro... Aliás, eles permanecem entre nós por muito tempo, deixando resíduos difíceis de processar, que aumentarão os lixões e a poluição. Certas partes do nosso "modess", por exemplo, podem levar até 100 anos pra se decompor.
Isso sem falar nos componentes químicos, como os agentes que fazem o papel ficar branquinho, e que acabam escorrendo para a terra e contaminando o solo. Por exemplo, a dioxina: subproduto do processo de alvejamento com cloro, é provavelmente a substância que deveria estar mais longe das delicadas partes baixas femininas - já que foi utilizada, numa concentração mais potente, até na guerra do Vietnam. Era conhecida então pelo nome de Agente Laranja.
Outro bom motivo para adotar os absorventes reutilizáveis é a economia. Reutilizáveis podem durar até oito anos, e isso representa um bocado de reais economizados - dinheiro que iria direto para o lixo na forma de absorventes descartáveis. E então chegamos na questão da autonomia. Todos os meses, as mulheres entregam o controle de um processo poderoso e íntimo nas mãos de corporações que não têm a saúde feminina como um de seus objetivos principais. Hoje em dia, se capitaliza tudo - até a menstruação. A publicidade nos diz que é moderno e prático utilizar absorventes e tampões, e nós acreditamos. Se passamos a controlar, nós mesmas, o que fazemos do nosso ciclo mensal, abre-se uma porta para que ocorra uma mudança profunda na maneira pela qual encaramos a "incomodação".
O resgate do feminino e a conexão com o planeta
Ao invés de incômodo, a menstruação pode significar uma chance de interiorização e cultivo da feminilidade. O sangue menstrual, detestado por inúmeras mulheres e considerado sujo em muitas sociedades, pode passar a ser visto de maneira diferente. E então, talvez a idéia de lavar nossos absorventes e reutilizá-los na próxima lua não parecerá assim tão maluca. Afinal, estamos colaborando para um planeta melhor, ao mesmo tempo em que se resgatamos nosso poder feminino.
O uso de absorventes não descartáveis representa um contato mais íntimo com você mesma. "Ao invés de jogar no lixo um sinal de fertilidade, você passa a se relacionar com este sinal, percebendo que a menstruação pode ser uma coisa positiva. É sinal de que você ovulou, e que não precisa ficar preocupada se seus hormônios estão ok ou não. É sinal de que você fechou um ciclo, assim como a lua, e que agora irá começar outro. É um sinal de esperança do seu corpo, pois é uma limpeza que ele está fazendo para no mês que vem se preparar novamente para gerar uma nova vida", lembra Diana Hirsch. "O ciclo menstrual é um grande presente em termos de flexibilidade, regeneração e criatividade. É um instrumento poderoso para se viver autenticamente, com responsabilidade e consciência", completa Nadia MacLeod, responsável pelo site australiano Menstruation. "Lavar os absorventes e reciclar o sangue no jardim, me mantendo conectada com a Terra, me ajuda a ter consciência dos ciclos da vida".
Morre a Grande Deusa e nasce o patriarcado
É preciso mesmo parar de olhar com repulsa, vergonha e medo para esse ciclo que acontece com todas as mulheres. Esse sentimento de sujeira, na opinião de Diana Hirsch, é resquício da sociedade patriarcal em que vivemos. Mas a humanidade nem sempre viveu no patriarcado. Há muito tempo, existiam sociedades de organização matriarcal, nas quais as mulheres eram respeitadas e veneradas e Deus não era Deus - e sim Deusa. Segundo Nadia MacLeod, na medida em que o patriarcado começou a se expandir, as culturas baseadas no culto à Grande Deusa ou à Mãe-Terra foram dizimadas ou se esconderam. "Com isso, se perdeu a reverência, conhecimento e poder inerentes ao ciclo menstrual. Lara Owen, no livro Seu Sangue é Ouro - resgatando o poder da menstruação, completa: "Nos últimos milhares de anos, todas as principais religiões do mundo tornaram-se patriarcais, e todas elas valorizam o intelecto e o espírito acima do corpo e dos instintos".
As sociedades que cultuavam a Grande Deusa viam a menstruação como um processo mágico, quando a mulher podia se conectar com os ciclos do planeta e da vida. "Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando", diz Diana. "O sangramento periódico das mulheres era um acontecimento cósmico, como os ciclos da lua e a subida e descida das marés", afirma Elinor Gadon no livro The Once and Future Goddess. Nadia MacLeod completa: "A menstruação, que já foi considerada uma ferramenta de alto poder de cura para as mulheres e suas comunidades, agora está confinada ao banheiro".
Onde encontrar absorventes reutilizáveis no Brasil?
aBiosorventes: bonitinhos e ecologicamente corretos
Bom, sempre dá pra fazer você mesma - ou mandar fazer na costureira ou na casa da avó, que tem máquina de costura. Mas agora já dá para comprar pronto aqui também, o que antes era um privilégio de americanos e europeus. Bonitinhos e ecologicamente corretos, os aBiosorventes são os primeiros absorventes reutilizáveis produzidos em escala comercial no Brasil.
Quem responde pela obra é Diana Hirsch, uma geógrafa carioca de 26 anos que está se preparando para cursar mestrado em Saneamento Ambiental. Tudo a ver com a função de fabricante e divulgadora de absorventes reutilizáveis: "Meu interesse é juntar a saúde da mulher com a questão dos resíduos sólidos, atrávés do aBiosorvente".
O projeto iniciou depois que Diana assistiu a um vídeo, produzido pelo curso de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chamado Conexão: Dioxina. "Esse vídeo explicava o que era a dioxina, e mostrava que na Alemanha as pessoas tinham a opção de comprar produtos que não fossem branqueados. As meninas da turma pensaram então em fazer um absorvente que não precisasse conter dioxina".
Diana então foi para a Internet, pesquisar. Achou dezenas de opções de absorventes sem dioxina e reutilizáveis - todos caros de importar. Sabendo costurar, ela resolveu então fabricar seus próprios absorventes. "Algumas amigas quiseram, e as amigas das amigas também, e aí pensei que seria uma boa trazer essa discussão para o Brasil".
Os aBiosorventes custam R$ 4,00 - ou 3 unidades por R$ 10,00. Para comprar, visite o site.
Diana contou para Planeta na Web como é conviver intimamente com os aBiosorventes:
Planeta na Web - Como é a aceitação de seu absorvente reutilizável?
Diana Hirsch - Bastante diversificada. Tem pessoas que eu juro que vão entender de cara, e não entendem, e tem outras que eu explico só porque elas perguntam, pois acho que nunca entenderiam, e elas acham a idéia fantástica! Isso vem sendo muito bom para eu parar de julgar as pessoas só pelas aparências... Venho descobrindo que a aceitação dos aBios passa por uma discussão muito maior: desde uma auto-aceitação, não ter nojo de lavar o próprio sangue, até um envolvimento maior com o Planeta, de cada um ser consciente da sua parcela de responsabilidade e de possibilidade. Olhando com um olhar mais macro.
PnW - Como fazer para lavar? Não é anti-higiênico?
Diana - É tão simples como lavar uma calcinha, a única diferença é que você precisará deixar de molho antes. Eu costumo deixar de molho um ou dois dias, e depois coloco na máquina de lavar, mas tem gente que depois do molho lava no banho. Com relação à higiene: um absorvente reutilizável não é mais anti-higiênico do que uma calcinha. Se você se sente segura para usar uma calcinha reutilizável, não tem porque não se sentir segura para usar o absorvente. A única pergunta é: você lava bem a sua calcinha?
PnW - Menstruação ainda é um tabu, e não deveria, já que toda a mulher menstrua. Por que você acha que ainda é considerado impuro ou sujo?
Diana - Acredito que ainda é resquício da sociedade patriarcal que a gente vive. O homem não menstrua, e, em geral, não se sente muito confortável com essa situação. Colocar a menstruação com esse status talvez tenha sido necessário para se estabelecer a sociedade nos moldes como se encontra hoje. Uma mulher que vê a sua menstruação e sua condição feminina como algo de bom, certamente é uma pessoa mais fortalecida e segura da sua condição. Isso dificultaria muito o trabalho dos homens. Deve ter sido necessário esse domínio patriarcal por algum tempo, apesar de que eu não sei porquê. Mas acho que já podemos nos fortalecer novamente. Não para 'lutar' com eles, mas para podermos ser livres.
PnW - Qual o impacto que representa o cultivo de uma relação mais saudável com a nossa própria menstruação?
Diana - A nossa sociedade rejeita a menstruação, mas não foi sempre assim. Durante muito tempo, até a Idade Média, vários rituais de fertilidade em adoração à Deusa eram feitos quando as mulheres da tribo estavam menstruando. Até porque elas menstruavam juntas, o que era muito comum. Aliás, apesar do nosso distanciamento, ainda é possível perceber isso: muitas mulheres, quando moram juntas, ou são muito amigas, com muita afinidade, tendem a menstruar na mesma semana! Isso é muito interessante ser notado: por mais que evoluamos tecnologicamente, e cada vez mais nos afastemos da nossa origem animal, acontece algo dentro de nós, mulheres, todo mês, que tem uma estreita relação com a Lua e com outras mulheres próximas a nós. Isso pode nos trazer de volta a nossa condição humana, enquanto seres que também fazem parte da natureza.
Fonte: http://www.terra.com.br/planetanaweb/reconectando/ambiente/menstruacao.htm
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"Que as Deusas estejam sempre a tecer e os Deuses estejam ao lado do nosso caminhar"