por Vanessa Reichert
A origem da dança do ventre é envolta de incertezas, pois é uma dança muito antiga e sem muitos registros, mas um dos prováveis berços dessa arte é a antiga civilização Suméria. A Turquia e a Índia apresentam alguns dos registros mais antigos de movimentos e cultos que evoluíram para o que conhecemos hoje como essa modalidade. Algumas das antigas civilizações do Oriente Médio utilizavam a dança como uma forma de cultuar seus deuses, nos templos era usada para entrar em transe e permitir uma comunicação direta com o mundo espiritual. Os deuses da Antigüidade muitas vezes eram representações das forças da natureza, como a chuva, o sol, a lua, etc. Mas existia também uma força superior a todas essas: a Grande Deusa, que teria gerado em seu útero tudo o que existe, como explica Patrícia Bencardini:
Sabe-se que a dança do ventre tem suas raízes ligadas aos templos. Acreditava-se em uma grande deusa, mãe de todos os seres humanos e de toda a terra. Era ela quem alimentava a terra tornando-a fértil para a lavoura. Nos rituais em sua homenagem, sacerdotisas expunham seus ventres sagrados fazendo-os dançar, vibrar e ondular. Era a forma de garantir prosperidade e fertilidade para a terra e para as mulheres (BENCARDINI, 2002).
No antigo Oriente, antes das civilizações judaico-cristãs, as religiões eram politeístas e contavam com diferentes deuses e deusas. Vêm dessa época os festivais de cheias dos rios, que coincidiam com o período fértil da terra e com as celebrações envolviam a dança, onde a mulher tinha um papel importante por considerada sagrada, pois era somente ela que poderia gerar novas vidas.
Com o passar dos séculos, houve guerras, invasões e muitas mudanças. A dança que antes era realizada somente nos templos, acabou se misturando às danças populares, perdendo seu aspecto sagrado. Começa aí a forte ligação com o povo árabe, que por ser nômade absorveu características de diferentes civilizações, entre as mais importantes estão: Suméria, Mesopotâmia, Babilônia, Egito, Fenícia, Pérsia e Índia. Todas essas civilizações influenciaram de diferentes formas a dança que conhecemos hoje como Dança do Ventre.
A ascensão do patriarcalismo ainda no final do período neolítico enfraqueceu o culto à Grande Deusa. Com a passagem do politeísmo para o monoteísmo se inicia o preconceito contra as dançarinas, pois elas representavam um culto antigo, baseado em uma cultura que não era mais aceita. O homem descobriu então, que as mulheres não geravam os filhos sozinhas ou com o auxílio dos deuses, assim elas passam de sagradas para propriedades de seus maridos, deixam de ser vistas como um ser auto-suficiente, necessitando sempre da proteção do seu pai ou esposo.
A dança conseguiu sobreviver, graças ás mulheres que passaram a viver nos haréns e usavam a dança como forma de entretenimento. As escravas que sabiam dançar valiam muito, pois podiam entreter os convidados durante recepções, no Egito pós-islâmico, a dança era realizada nas praças, em troca de dinheiro e atualmente é utilizada principalmente como forma de entretenimento, como diz Bencardini: “Nem tão sagrada, nem tão profana, a dança do ventre é hoje apenas uma técnica especialmente desenvolvida para o corpo feminino”.
Por ser tão antiga quanto a própria história do homem no Oriente Médio, a dança passou por inúmeras transformações, em diferentes culturas, fazendo surgir diferenças regionais dentro de uma mesma nação, gerando mitos de “certo” ou “errado” dentro desse estilo de dança.
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"Que as Deusas estejam sempre a tecer e os Deuses estejam ao lado do nosso caminhar"